terça-feira, 30 de agosto de 2011

Distância é a palavra


Eu não tenho por hábito (mas que fique claro, não significa que é certo) estar sempre com os da minha família, não são para todos que consigo dar longos abraços, não são todos os que participaram da minha vida, a grande maioria até lembra o meu aniversário, mas quando muito, me felicitam quando nos encontramos. Eu faço o mesmo.
Assim eu fui criada. Distância é a palavra. Essa família tem medo de carinho, de demonstrar amor. Talvez isso possa representar fraqueza? E o antepassado que invento isso só queria proteger os seus, tornando-os secos, duros, exigentes, sem abraços, sem beijos... Fico pensando: Seria uma forma de tornar a despedida menos dolorida, caso fossem vendidos para outros “senhores de escravos”? Não sei, nunca vou saber. Claro que sempre tem aquele que foge à regra e assim nos tornamos duas linhas os duros incorrigíveis e os duros que lutam contra essa natureza.
Vai parecer muito estranho que nos dias de hoje ainda possa acontecer isso, mas até a algum tempo atrás eu e a minha mãe não trocávamos abraços e beijos e ela e a mãe dela, essa hoje já com 86 anos de idade, esforçam-se para tocarem-se, triste, mas verdadeiro.
Eu nunca pensei que conseguiria demonstrar amor, ou que do nada pudesse abraçar alguém ou me deixar receber carinho, ou simplesmente chorar na presença de outro. Isso não significa não sentir vontade, mas é quase vergonhoso... É algo muito forte, que só com muita força de vontade podemos ir lutando contra essa natureza tão solitária.
Eu luto todos os dias para tentar ser melhor, eu beijo abraço e digo que amo o meu filho todos os dias desde que ele nasceu. Não sinto mais vergonha, e muito menos recuo como um gato arisco quando alguém tenta me tocar.
Não tenho mais como reparar o passado, pelos carinhos que não demonstrei muito menos como pedir desculpas para as pessoas, que fui fria e seca. Mas sinto arrependimento pelos abraços que não dei pelos carinhos que não correspondi...
Daqui para frente não perderei mais uma oportunidade para demonstrar o que sinto, pois amo a minha família, os meus amigos e os meus bichos e percebi que não fico fragilizada, antes, esse amor me dá forças para querer ser sempre melhor.


P. Proença

08/08/2011