quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Gatos são divinos. E bem superiores a nós. (Aiilin Aleixo)




Amo gatos. Amo suas vibrissas, que, quando criança, cortava pensando estar fazendo a barba do bicho. Suas unhas, que já me retalharam de cima a baixo (nunca deixei de pegar um sequer no colo, mesmo os ariscos ou sarnentos). Amo os dentes afiados. O andar deliciosamente rebolante (cresci tentando imitá-los e hoje rebolo tanto que parece que vou desconjuntar). Amo a maneira como se lavam, o modo como dormem, encolhidos. Os grandes olhos amarelos. Mas o que mais amo é o que muita gente odeia: a personalidade.
Eles não precisam de você, ou de mim, pra dar comida, arrumar uma gata gostosa ou se distrair. Sabem muito bem viver sozinhos, mas oferecem o prazer de sua companhia. Se estivermos à altura, é claro. Gatos só se deixam "criar" por pessoas pelas quais têm o mínimo de respeito (você costuma ver mendigos ou bêbados com gatos de estimação?). Independentes.
Eles nos olham como se fôssemos completos imbecis - que somos - quando balbuciamos alguma estupidez do tipo "Xaninho, vem com a mami": ora, já que vamos abrir o bocão, que seja para algo que preste. Ou os deixemos dormir em paz, que o sono é sagrado, meu amigo. Cínicos.
"Amo no gato a suprema indiferença e a distinção com a qual ele passa dos salões aos telhados." Elegantes. Pouco importa se moram num lixão ou numa almofada fofa, os gatos satisfazem-se com o que são e não precisam ir ao pet shop colocar lacinho e perfume pra serem aceitos. Não admitem humilhação: que gostem deles do jeito como são ou os esqueçam, porque pra eles tanto faz.
Charmosos. Nunca se vêem gatos transando, muito menos atracados no meio da rua, de bando. São amantes noturnos, discretos. O máximo de participação que nós temos no ritual é auditiva - ou líquida, quando os mais babacas jogam água pra apartar. E, mesmo aparecendo sem um pedaço da orelha no dia seguinte, aquele olhar sacana vale a noite de sono perdida com a gritaria. É impossível se zangar com um gato.
Eles não fazem festa quando chegamos em casa, não babam com o linguão pra fora ou rolam pelo chão, mas sabem direitinho quando estamos tristes. Daí chegam, como quem não quer nada, sobem no nosso colo, ronronam (ah, como adoro esse barulhinho!), dormem um pouco e vão embora. Não são disponíveis nem estão ao alcance da mão todo o tempo, é certo, mas quando um gato está com você pode ter certeza de que ele não gostaria de estar em mais nenhum outro lugar. E nem faz aquilo por hábito ou obrigação. Diferentemente dos cães, gatos não querem ter um dono, e sim compartilhar bons momentos. Honestos.
Conviver com eles requer maturidade. Não são traiçoeiros, são livres. Nunca bajulam. São autênticos, por isso são difíceis. É muito mais fácil lidar com mentiras gentis, babação de ovo, puxação de saco, não é? E agora não me refiro só a felinos...
Gatos são muito parecidos com os humanos, por isso tanta gente os odeia: sabemos tão pouco lidar com eles como conosco mesmos. Parecidos, mas melhores: não mentem, não têm hierarquia, não fingem gostar de crianças, não sorriem quando na verdade querem te estralhaçar. São rancorosos (experimente maltratar um deles e, inadvertidamente, cruzar com ele de novo), preguiçosos, sedutores, imprevisíveis. Enigmáticos, interessantes, sagrados.
Defeitos e virtudes no ponto certo.
Gatos seriam homens perfeitos.






2 comentários:

Manfred disse...

Lindo, gatos são realmente fascinantes. Não sei como ninguém comentou.

Rick da Motinha disse...

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