segunda-feira, 7 de junho de 2010

Precisa-se e oferece-se (Clarisse Lispector)


Sendo este um jornal por excelência, e por excelência
dos precisa-se e oferece-se,
vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa
a ficar contente porque esta está tão contente
que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la.
Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria.
É urgente, pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes,
que até parece que só se as viu depois que tombaram;
precisa-se urgente antes da noite cair porque
a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais.
Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste
porque a alegria que se dá é
tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama.
Implora-se também que venha,
implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo.
Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar.
P.S. Não se precisa de prática.
E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros.
Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.

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